“O Naruto pode ser um pouco duro às vezes, talvez você não saiba disso, mas o Naruto também cresceu sem pai. Na verdade, ele nunca conheceu nenhum de seus pais, e nunca teve nenhum amigo em nossa aldeia. Mesmo assim eu nunca vi ele chorar, ficar zangado ou se dar por vencido, ele está sempre disposto a melhorar, ele quer ser respeitado, é o sonho dele e o Naruto daria a vida por isso, sem hesitar. Meu palpite é que ele se cansou de chorar e decidiu fazer alguma coisa a respeito!” (Kakashi Hatake de Masashi Kishimoto)
Esta fala de Kakashi pode resumir o que é o personagem Naruto da série de mangá de mesmo nome. Um mangá idealizado, roteirizado, ilustrado por Masashi Kishimoto. Naruto teve a sua primeira publicação em 1999 indo até 2014 com 72 volumes. Se vê que o autor passou quinze anos trabalhando no mangá que ganhou uma série de anime para as telas com 720 episódios, dividido numa primeira fase, classificada como Naruto Clássico, 220 episódios, quando a história se passa nos anos da pré-adolescência de Naruto (12-13 anos). Já a segunda fase acontece na sua adolescência (15-16 anos), Naruto Shippūden com 500 episódios.
Baseada na mitologia japonesa e no confucionismo, a história de Naruto se passa no Japão da era feudal. Quando Naruto nasceu, Kyūbi, um demônio na forma de uma Raposa de Nove Caudas, estava destruindo a Vila da Folha ou Konoha, mas o Quarto Hokage neutralizou a Raposa de Nove Caudas, selando-a no corpo de um bebê recém-nascido: Naruto Uzumaki. O Quarto Hokage se sacrificou para salvar a vila de Konoha. Naruto é órfão, faz o tipo de personagem ingênuo, amoroso, com dificuldade para aprendizagem, atrapalhado e um eterno brincalhão. Ele faz de tudo para ser notado. Seu sonho é se tornar um Hokage para ser reconhecido pelos habitantes de sua aldeia. Na verdade, o demônio selado nele despertou o medo e o desprezo de moradores da aldeia, que, com o tempo, veem a Kyūbi e Naruto como a mesma coisa. Apesar disso, Naruto treina duro para se tornar um genin, o primeiro nível entre os ninjas.
Uma das curiosidades do manga é que Naruto é nome de uma cidade e um ingrediente da culinária japonesa para fazer o famoso Lámen (ou Rãmen), o prato preferido do personagem e também de seu criador. O ingrediente é uma massa de peixe servida sobre o Lámen. Lembra uma flor com uma espécie de redemoinho rosa no centro. O Jutsu Rasengan que Naruto domina é uma manipulação do ar e mais uma referência é o sobrenome Uzumaki que significa redemoinho. Além disso, a cidade Naruto no Japão é conhecida pelos ventos em forma de espiral. Por aí se vê que nada é por acaso na obra de Kishimoto.
Sendo uma história de ninja, não faltam lutas e uma dose cavalar de violência o que causa um estranhamento dado que há um grande público infanto-juvenil, mas o anime destaca-se fortemente por valores como amizade, superação, responsabilidade, autoconfiança e treinamento constante para alcançar os seus objetivos. Valores que vão sendo construídos e solidificados quando Naruto forma o “Time 7” juntamente com Sasuke Uchiha, seu rival e por quem nutre uma amizade, e Sakura Haruno, a garota por quem Naruto é apaixonado. Completa o time, o sensei Kakashi Hatake.
Os bons entendedores não se furtam de dizer que Naruto é um dos melhores animes da atualidade e que esse mangá é uma das razões para que os animes japoneses viralizassem pelo mundo. É a série de mangá mais vendida em toda a história, cerca de 220 milhões de cópias em todo mundo e publicada em 35 países fora do Japão. E levar a saga do pequeno ninja para as telas deu uma proporção maior ainda ao personagem.
Mais impressionante é ver a identificação do universo crianças e jovens com Naruto, responsável por construir um imaginário juvenil entre a cultura ocidental e oriental. O que se vê é não importa de onde você é, o que faz, a sua cor, raça, idioma. Todos somos Naruto.
Jovens brasileiros em filme independente
sobre os personagens de Naruto.
Jovens dos Estados Unidos em filme
independente sobre Naruto.
Jovens da França em filme independente em uma
batalha entre o grupo de Naruto e One Piece.
O personagem de Kishimoto também está chegando à Hollywood e, diante de muitas especulações sobre como a meca do cinema mundial pode retratar Naruto e seus companheiros, já rola na Internet uma petição para evitar o que se chama de whitewashed (embranquecer), pois há uma grande suspeita de que Hollywood poderia descaracterizar o anime ao não realizar o filme com atores asiáticos ou sua descendências.
Além disso, o anime não gera apenas vídeos no Tik Tok, YouTube, memes para Instagram ou a infinidade de cosplay que perambulam pelas ruas na mesma amplitude dos incontáveis personagens do anime, mas também artigos científicos discorrendo sobre a história de Naruto e suas influências em diversos aspectos sociais. Por exemplo, um artigo que trata sobre o humor¹ com base na série Naruto e suas articulações com a cultura e antropologia no imaginário juvenil. Um outro artigo debate a mitologia japonesa ² a partir do conto de Jiraiya usando a teoria crítica de Carl Jung. Um terceiro, apresenta o método de psicoterapia por meio de Naruto para criar uma terapia mais positiva a partir de interesses apaixonados de seus pacientes. Só mais um exemplo de estudo científico, um trabalho que procura achar evidências autobiográficas³ no roteiro de Naruto.
Esses trabalhos demonstram que animes e quadrinhos é coisa que não está restrita ao mundo infantojuvenil. Há muita análise debaixo dessas camadas de traços ilustrados. Ao fazer uma leitura das formas de expressões culturais situadas na conjuntura histórica dos artistas enxergamos a suas posições políticas, seus efeitos pelo mundo e na empregabilidade das obras no cotidiano das pessoas. Ou seja, a arte não é apenas entretenimento.
Para se ver, o pesquisador, filósofo e jurista Silvio Almeida, também um amante dos quadrinhos, desenvolve análises filosóficas relacionando a heróis da Marvel e da DC com Política. A aposta desta autora é que há um deslocamento geracional, em que, surge uma identificação muito forte das gerações mais novas com os animes asiáticos e com isso vem os seus valores e a moral, algo que existia com os “animes” americanos na época de seus pais. Ou seja, os quadrinhos estão em transposição no globo para uma cultura pop contemporânea japonesa e, já que os animes não se reduzem apenas ao Japão, vamos dizer.... asiática.
Veja o livro inspirado em Naruto e companhia, "O Caminho de um Ninja".
Mangá = é a palavra usada para designar história em quadrinhos (português brasileiro) ou banda desenhada feita no estilo japonês. No Japão, o termo designa quaisquer histórias em quadrinhos. (Fonte: Wikipédia)
Anime ou animê = se refere à animação ou desenho animado. A palavra é a pronúncia abreviada de "animação" em japonês, onde esse termo se refere a qualquer animação, não importa o país. (Fonte: Wikipédia)
1. Iconografia do humor presente no anime Naruto: representação gráfica dos ícones humorísticos na animação nipônica;
2. The relevance of the Japanese myth of creation and the Tale of Jiraiya in the anime manga series Naruto;
3. Autoficção no Naruto: rastros da vida de Masashi Kishimoto nos personagens e enredo da série de anime e mangá.
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